quarta-feira, 2 de março de 2011

Será?

Recentemente eu estava discutindo uma estatística apontando que os homens se suicidam mais que as mulheres. (um fato sociológico repetidamente observado e essencialmente incontroverso) e eu sugeri diante disso que ser homem não é tão bom assim e que ao contrário do que se possa por vezes querer fazer crer não decorre automaticamente do fato que as mulheres sofrem com questões específicas do seu gênero que os homens não sofram também com as questões específicas ao seu. E que, no balanço total, ser homem não seja lá esse passeio no parque que algumas ideologias querem pregar.

As reações que recebi ao expressar esse tipo de pensamento foram variadas, mas algumas foram tão exageradamente agressivas que despertaram meu interesse. Por que é um tabu tão grande sugerir que talvez o “poder” dos homens não seja assim tão grande? Por que é que qualquer estatística social colocando as mulheres numa posição desfavorável tende a ser automaticamente interpretada como sintoma de opressão, enquanto que as que colocam os homens como vítima ou prejudicado tendem a ser ou ignoradas ou “explicadas” como resultado de uma suposta irresponsabilidade / violência / estupidez  endêmica tipicamente masculina?

Os homens não só cometem mais suicídios como genericamente morrem mais cedo e levam vidas que por uma grande coleção de critérios são mais tensas, infelizes e perigosas do que as mulheres. A questão é : por quê? Querer dizer que é porque são uns idiotas é tão perverso quanto querer sem nem olhar as evidências afirmar que uma vítima de estupro provavelmente provocou o ataque. E se vamos olhar mais de perto, vemos que grande parte dos homens não se mata de tanto trabalhar porque ache dinheiro ou sucesso assim tão intrinsecamente importantes. Eles fazem isso porque, estatisticamente, acham que têm a obrigação e o dever de colocar o pão na mesa de suas famílias. Porque sentem-se responsáveis, como homens, por pagar as contas, e por zelar pelo bem estar material e segurança física de sua esposa e filhos, e não podem esperar encontrar uma esposa para começar se não o fizerem. Enfim, porque nisso – e em muitos outros aspectos – são prisioneiros de um gender role que não escolheram e sobre o qual não têm controle.

Por Sergio de Biasi