O suposto super-outdoor comemorativo à inteligência do cientista judeu deveria, sim, ser destinado a homenagear um gênio sem similar nas inúmeras e incontáveis galáxias, um ser único que ninguém ousa elencar comparações: um rei de nome Pelé.
“O Mundo de Pelé” deveria ser a mensagem com exibição eterna, colocada ao redor do planeta em grandes placas sobre montanhas, rios e mares, em telas holográficas orbitando a bola azul, em sinais de rádio emitidos pelos satélites e sondas espaciais.
Nunca haverá um homem, um atleta, um artista lúdico como Edson Arantes, que hoje faz 70 anos de Nascimento e que desde a meninice quando era chamado Dico, fez da bola de futebol seu equipamento de trabalho, de magia e de domínio do mundo.
Pelé, com sua trajetória e números, não deixa espaço sequer para a glória de alguns dos craques que disputam, nas diversas visões e votações analíticas, a condição de segundo gênio depois dele. Nada, nem ninguém poderá se aproximar jamais da sua arte.
O mito de Pelé, visível e palpável, é tão imenso e indefinido, que gerou outros mitos na historiografia, na cultura e nos registros do futebol mundial. Um deles, graças a Ele, é de que o Brasil é o país que mais ama e vivencia o esporte bretão. O que não é.
É que a onipresença de Pelé é tão manifestamente real no cenário esportivo, dado seu histórico de façanhas inenarráveis, que levou seu próprio povo a acreditar nos exageros da imprensa esportiva, aquela de inteligência questionada por Paulo Mendes Campos.
Foi Pelé, e tão somente Ele, quem primeiro tirou do Brasil sua insignificância de terceiro mundo, que rasgou em lances geniais a cortina do desconhecimento geográfico e cultural do País. Ele é nosso maior e insubstituível cartão postal, nossa marca.
Até o advento do menino de Três Corações, do moleque de Bauru e do adolescente malabarista de Santos, o futebol brasileiro era apenas um projeto em construção, um circo mambembe de artistas sem reconhecimento internacional.
Futebol no Brasil dos tempos antes de Pelé era um interminável tira-teima pela supremacia sul-americana com os argentinos e uruguaios, que invariavelmente acabava pendendo para os lados dos dois vizinhos, nos sobrando a esférica coadjutoria.
Com Pelé, a pátria vingou o talento predecessor de Friedenreich, de Friese, de Heitor, de Leônidas, de Heleno, de Zizinho, de Pagão, de Jair da Rosa Pinto, de Canhoteiro. E glorificou as gerações de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Gérson e Jairzinho.
Pelé nasceu em 1940, a década que ficou marcada nos gramados latinos como “a era do platinismo”, período em que o futebol nacional amargaria derrotas acachapantes para a Argentina e quase sempre não tinha forças para conter a ginga do Uruguai.
Quando começou a carreira e levou o Santos ao panteão dos grandes clubes mundiais, Pelé já estreou na seleção brasileira estabelecendo o signo de uma nova História: seu primeiro gol foi contra os argentinos. Encerrava-se um ciclo de freguesia.
Pelos pés do menino-rei, o Brasil conquistou o primeiro título mundial; e foi mais duas vezes campeão sob a aura maravilhosa de um gênio que o planeta inteiro aprendera a louvar. Fazer 500 gols aos 22 anos, 1.000 aos 29, ninguém jamais repetirá.
O mito de Pelé é inquebrantável graças aos registros históricos que comprovam uma carreira espetacular, onde os lances e gols como pinturas artísticas aconteciam jogo a jogo. Pelé nunca viveu má fase, jamais entrou num jogo para não se destacar.
Depois que o rei parou, ficou bastante clara e estabelecida uma verdade que seu povo e sua imprensa esportiva teimam em não aceitar. A partir da Copa de 1974, a seleção do Brasil só ganhou duas vezes, assim como Alemanha, Itália e Argentina.
Sem Ele, ou sua influência, o futebol se transformou num congresso de japoneses, numa feira de negócios com aparência e conteúdo uniformes. Sazonalmente, surgem craques a lembrar sua arte, mas não convém fazer comparações. Não se deve invocar o nome de Pelé em vão.
Longa vida ao Rei da Terra.
Alex Medeiros.